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Nos tempos atuais ainda o crime não compensa (menos mal), mas acho estranho ter uma ‘’justiça’’ entre eles, e ainda tendo um juiz para apurar as ‘’injustiças’’.Como é que pode ter problemas entre eles ? Eles não são tão organizados assim, nem precisariam de juiz mas, como são bandidos…É um vale tudo da forma mais desumana que existe. Portanto, eles que se matam uns aos outros.
Também tenho minhas duvidas se isso é verdade ou não, se for verdade, estou muito surpreso com isso.
 Também estou com uma classificação dos criminosos segundo Candido Motta:
Criminosos impetuosos – são aqueles que cometem crimes movidos por impulso emotivo, por exemplo os crimes passionais ou crimes que ocorrem em uma discussão de trânsito. O criminoso impetuoso costuma se arrepender em seguida.
Criminosos ocasionais – são aqueles que decorrem da influência do meio, isto é, são pessoas que acabam caindo em “tentação” devido a alguma circunstância facilitadora. Neste caso aplica-se o ditado “a ocasião faz o ladrão”. Os delitos mais comuns são furto e estelionato. O criminoso ocasional tem chances de se redimir.
Criminosos habituais – são os profissionais do crime. Normalmente se iniciam no crime durante a adolescência e progressivamente adquirem habilidades mais sofisticadas. Praticam todo tipo de crime. A violência tem o intuito de intimidar a vítima.
Criminosos fronteiriços – são criminosos que enquadram-se em zona fronteiriça entre a doença mental e os indivíduos normais. São pessoas que delinquem devido a distúrbios de personalidade, por exemplo, transtorno de personalidade anti-social (psicopatia); transtornos sexuais etc. Em geral, são pessoas frias, sem valores éticos e morais, que cometem crimes com extrema violência desmotivada.
Loucos criminosos – são pessoas que possuem doença mental, isto é, alteração qualitativa das funções psíquicas que compromentem o entendimento e a auto-determinação do indivíduo. Por exemplo: esquizofrênicos, paranóicos, psicóticos, toxicômacos graves etc. Em geral agem sozinhos, impusivamente, sem premeditação e remorso.
Continuando, também existe isso:
Técnicas de neutralização (do inglês techniques of neutralization) é um conjunto de métodos teóricos através dos quais as pessoas que cometem atos ilegítimos neutralizam, temporariamente, certos valores éticos dentro de si mesmas, que normalmente as impediriam de perpetrar esses atos. Em outras palavras, é um método psicológico usado pelas pessoas para “desligar” sua censura interior temporariamente, quando praticam, ou estão para praticar, atos ilegítimos.

As técnicas de neutralização

A teoria da neutralização foi construída com base em quatro observações:
  • Delinqüentes demonstram sentir culpa acerca de seus atos ilegítimos;
  • Delinqüentes frequentemente admiram pessoas honestas e cumpridora das leis;
  • Delinqüentes mantêm uma clara linha divisória entre os que podem ser vitimizados e os que não podem;
  • Delinqüentes não ficam imunes às necessidades de conformidade
A partir destas observações da realidade, Matza e Sykes relacionaram os métodos pelos quais as pessoas justificam seus atos ilegítimos:
Negativa de responsabilidade : O delinqüente sugere que foi uma “vítima das circunstâncias”, ou foi forçado numa situação fora de seu controle
Negativa de dano : o delinqüente insiste em achar que suas ações não causaram nenhum dano ou malefício
Desprezo pelas vítimas o delinqüente acredita que a vítima “merecia” sofrer qualquer ação que tenha sido perpetrada contra ela;
Condenação dos ‘condenadores’ : o delinqüente pensa que os que os condenam o fazem simplesmente por maldade, ou estão injustamente transferindo a culpa de si mesmos
Apelo a ‘valores mais altos’: o delinqüente sugere que sua ação ilegítima foi causada para praticar “um bem maior”, com conseqüências de longo prazo que irão justificar o malfeito, como, por exemplo, proteger um amigo



Receita indigesta


Os criminosos são, em grande medida, uma invenção do sistema de repressão penal; ao contrário do que pensa o senso comum, eles não são simples seres malvados, que andavam livres sobre a terra até que o Direito os descobriu e que, desde então, tenta, por meio das penas, neutralizá-los. Não, os criminosos não são produtos de descobertas, mas sim entes inventados pela lógica distorcida do sistema penal vigente. Para quem foi embalado pelo modelo etiológico – aquele do criminoso enquanto ser anormal - as afirmações acima podem parecer tão estranhas quanto acusar o sistema de saúde pública de ter criado os doentes, e é por isso que a primeira impressão que se costuma ter diante da abordagem criminológica que as subscreve, o labelling approach, é a de estarmos diante de uma das muitas teorias da conspiração, aquelas paranóicas construções teóricas destinadas a apontar conluios maquiavélicos que dirigiriam, sub-repticiamente, as instituições centrais de nossa sociedade, como o Direito e o Estado. O sistema penal inventar criminosos, onde já se viu...
Mas antes de desenvolver uma antipatia irreversível pelo labelling approach, municie-se de algumas informações que dão o que pensar. A primeira é a cifra oculta, ou seja, a constatação de que há muito mais condutas praticadas contra o direito criminal do que o sistema penal tem condições de investigar e processar. Isso significa que muitos cometem crimes, mas apenas alguns serão ditos criminosos (ninguém é criminoso até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, lembra?). A segunda: há, mesmo proporcionalmente, muito mais pobres nas cadeias do que membros de outras classes. Da primeira afirmação podemos concluir que muito mais gente mereceria ser chamada de criminosa em relação àquelas que efetivamente são. Da segunda, inferimos que, não podendo perseguir a todos, o sistema penal persegue prioritariamente os mais pobres. Somem-se a isso contradições como a seguinte: se há tantas críticas ao sistema penal brasileiro, de que há excesso de recursos e procedimentos que inviabilizam, por exemplo, a prisão do político desonesto, por que os estratos mais marginalizados da população caem tão facilmente atrás das grades? Por que essas dificuldades que o jurista conformado diz ser "inerente ao processo" somem no andar debaixo? Mistério...
Cifra oculta, dificuldade em criminalizar os ricos, excesso de pobres nas cadeias, esses são os ingredientes básicos da receita de como produzir criminosos. Reserve essas informações. E vamos em frente.

São seus olhos
Surgida nos EUA da década de 1960, a teoria do labelling approach, ou teoria do etiquetamento, sofreu uma forte influência do interacionismo simbólico, corrente sociológica que sustenta que a realidade humana não é tanto feita de fatos, mas da interpretação que as pessoas coletivamente atribuem a esses fatos. Isso significa, entre outras coisas, que uma conduta só será tida como criminosa se os mecanismos de controle social estiverem dispostos a assim classificá-la. O que é um crime, então? Crime, pelos menos em seus efeitos sociais, não serão, como ensinava o dogmático penalista, todas as transgressões injustificadas à lei penal. Não, crimes são apenas as condutas que a sociedade e seus órgãos punitivos decidem perseguir como tal. Sem certo consenso de que determinada conduta suspeita deve ser averiguada, que determinados fatos e indícios devem ser convertidos em um processo penal, não haverá, em seus efeitos práticos, crime.
Era isso que H. Becker, um dos principais expoentes da abordagem do etiquetamento, queria dizer quando sustentava que o desvio não está no ato cometido, nem tampouco naquele que o comete, mas que o desvio é a conseqüência visível da reação social a um dado comportamento. Ser desviante, ou criminoso, é, assim, o resultado de um etiquetamento social, e não o corolário lógico de uma conduta praticada. É possível, como bem sabemos, infringir as normas penais sem que se seja criminalizado. Pense-se, sobretudo, nas milhares de condutas presumivelmente delituosas das elites brasileiras, não investigadas por falta de "vontade" das autoridades competentes. Também não é incomum haver processos de criminalização sem que haja certeza acerca da autoria da conduta típica – pense nas investigações apressadas, nas exposições abusivas da imprensa, e nos processos judiciais mal conduzidos contra suspeitos miseráveis. Não, o crime não é algo que se faz, mas uma determinada resposta social a um algo supostamente feito.
O crime, portanto, não emerge naturalmente a partir de uma conduta proibida praticada por um agente imputável (modelo dogmático), nem resulta diretamente de uma conduta proibida praticada por um ser anti-social (modelo etiológico), mas é o resultado de uma interpretação sobre que aquela conduta, vinda daquela pessoa, merece ser classificada como crime. Exemplifica-se. Imaginemos uma mulher que tenta sair de uma joalheria com um caro e não pago bracelete quando é barrada pelos seguranças. Se essa aparente tentativa de subtração à coisa alheia móvel (art. 155 do Código Penal) será tomada como crime, sintoma compreensível de cleptomania ou mera distração, vai depender menos dos detalhes da conduta tentada do que do perfil da apontada infratora. A tese da distração cai bem, por exemplo, se a suposta tentativa fosse realizada por uma cliente habitual da joalheria; assim como a tese da cleptomania se adequaria perfeitamente se a acusada fosse uma famosa atriz de novela. Já para uma empregada da loja, a única tese "compatível com a realidade das coisas" é a de tentativa de furto puro e simples. A conduta é a mesma, a ausência de provas também, só o que variará, neste caso, são as suposições socialmente consideradas adequadas ao caso.
Crenças presumidamente lógicas, mas claramente ideológicas na proteção dos mais poderosos é que resolverão a questão. "Acreditamos ser um sintoma de cleptomania" – diz em nota o dono da loja – "pois é ilógico crer que uma pessoa de elevada posição social iria se rebaixar a ponto de furtar uma jóia". Eis aí uma declaração coerente com o imaginário popular de que o furto é delito exclusivo de pessoas pobres. Ora, se a cleptomania é um transtorno psíquico, sua manifestação não se ligará ao fato de se poder pagar ou não pelo bracelete, mas à compulsão de tê-lo sem pagar. Assim, a condição de ser pobre ou rico, clinicamente, não deveria importar. Ou esse transtorno é exclusivo de quem ganha acima de tantos milhões por ano? Mesmo o DSM IV (o manual de psiquiatria norte-americano) parece induzir a essa crença, ao colocar que o furto na cleptomania costuma ser de um bem de pouco valor monetário, relativamente às posses de seu praticante. Mas isso se deve à orientação corrente, a bem da sociedade, de que o diagnóstico para a cleptomania deve ser residual, só devendo prevalecer se não for mais bem explicado por outro transtorno de conduta. Rasteiramente: se a pessoa não precisava do que furtou, ganha força a tese da cleptomania; se precisava, deve ser furto mesmo.
Políticos e corruptos de elite defendem-se da mesma forma: "Não preciso roubar." Se, ao longo do mundo e, particularmente neste país, só se apropriasse dos bens alheios quem precisasse, o universo das finanças públicas seria esplendidamente superavitário. Ao contrário, se todos os necessitados passassem a roubar, a vida num país de tantos miseráveis como o Brasil seria insuportável. Para o mal ou para o bem, a lógica do "como sou rico, não roubo"/ "como sou pobre, roubo" não guarda relação com os fatos: apenas com ideologias. E é dessa ideologia que se beneficiarão a socialite e a atriz para explicarem que um bracelete não pago, em seu poder, na saída da loja, só pode indicar distração ou sintoma clínico; furto nunca. Mas essa mesma ideologia selará o futuro da empregada, sobre a qual a tese da distração, ou doença, será vista como uma afronta à inteligência dos personagens que conduzem seu indiciamento criminal. Logo o delegado a lembrará que "não nasceu ontem!".
Então o que é um criminoso? Criminoso é aquele a quem, por sua conduta e algo mais, a sociedade conseguiu atribuir com sucesso o rótulo de criminoso. Pode ter havido a conduta contrária ao Direito penal, mas é apenas com esse "algo mais" que seu praticante se tornará efetivamente criminoso. Em geral, esse algo mais é composto por uma espécie de índice de marginalização do sujeito: quanto maior o índice de marginalização, maior a probabilidade de ele ser dito criminoso. Tal índice cresce proporcionalmente ao número de posições estigmatizadas que o sujeito acumula. Assim, se ele é negro, pobre, desempregado, homossexual, de aspecto lombrosiano e imigrante paraguaio, seu índice de marginalização será altíssimo e, qualquer deslize, fará com que seja rotulado de marginal. Em compensação, se o indivíduo é rico, turista norte-americano em férias, casado e branco, seu índice de marginalização será tendente à zero. O rótulo de vítima lhe cairá fácil, mas o de marginal só com um espetáculo investigativo sem precedentes.

Não é o que se faz, mas o que se é
Contrariando os manuais acadêmicos, o labelling approach sustenta que é mais fácil ser tido como criminoso pelo que se é do que pelo que se faz. Essa afirmação ganha força quando nos lembramos da cifra oculta, nomenclatura que destaca que as condutas delituosas que chegam a virar processos judiciais constituem apenas a ponta do iceberg do total de condutas ilícitas efetivamente existentes em uma sociedade. Se nem tudo que, pela leitura da lei, deveria ser tido como crime assim é reconhecido pela prática dos operadores do sistema penal, deve haver um critério de seleção para decidir entre tantas condutas ilícitas praticadas quais serão, de fato, tratadas como crime. O labelling approach sustenta que tal critério é o índice de marginalização do sujeito, o número de estigmas que ele carrega, ainda que nenhum deles precise ser de natureza criminal. Nesse sentido, o sistema penal não teria a função de combater o crime, mas a de atribuir rótulos de criminosos aos já marginalizados.
Pensemos em duas pessoas viajando num ônibus. Escondida entre as poltronas das duas encontra-se um pacote contendo droga ilícita. Não se sabendo a qual delas pertence, investigam-se ambas. As duas se dizem inocentes e os indícios colhidos não são esclarecedores. Investiga-se quem são elas. O da direita é contabilista, empregado da mesma empresa há 10 anos, pai de família, de paletó e gravata. Já o da esquerda é um surfista, sustentado pelos pais, com um piercing na sobrancelha. Basta saber em qual dos dois seria mais fácil acrescentar o rótulo de criminoso para saber quem será mais enfaticamente investigado. Um rótulo predispõe ao outro. Surfista desocupado e traficante combinam muito mais facilmente do que contabilista empregado e traficante (pelo tirocínio de alguns policiais, quem tem menos dinheiro para viver tem mais dinheiro para comprar drogas). Na prática, em situações como essas, sabe-se que o Estado se lembrará, de fato e de direito, que é seu dever provar a eventual culpa do contabilista antes de sair alardeando que achou o culpado. É o que manda a lei. No entanto, com uma freqüência assustadora, diante do surfista desocupado o ônus se inverterá, cabendo ao este demonstrar sua inocência, trocando-se a presunção de inocência determinada pela lei pelas regras da pragmática repressiva.
O rótulo de marginal parece não ter aderência direta à pele dos indivíduos. Para aderir, necessário é que tais indivíduos primeiro tenham sido selados com outros rótulos estigmatizantes, é preciso que seu índice de marginalização seja alto. É assim que o processo contra o político desonesto quase nunca concluirá nada. As recorrentes alegações de ausência de provas, de cerceamento de defesa e a demora na ação, que levará à prescrição "sem julgamento de mérito", o favorecerão antes que o rótulo de criminoso possa-lhe ser impingido. Já para investigar, processar e encarcerar um indivíduo pobre, o sistema repressivo é rápido e quase infalivelmente condenatório. É que a base onde fixar o rótulo de marginal já existia: a própria pobreza. Todos esperavam a condenação e ela veio. Nenhuma surpresa.

Ladeira escorregadia
Um estigma predispõe ao outro. É como uma ladeira escorregadia: uma vez tendo descido o primeiro degrau da exclusão (ser pobre, desempregado, bicha, preto ou prostituta) é preciso ter muito cuidado para não descer mais outro e outro, até chegar ao final do processo excludente, sintetizado no rótulo de criminoso. É assim que comentários aparentemente causais-explicativos são dados na mídia quando se descobre, por exemplo, que o assassino era homossexual. Na leitura popular há um continuum do tipo: homossexual, pervertido, criminoso. Já se esperava. Da mesma forma, tudo parece estar esclarecido quando se descobre na casa do acusado de assassinato uma coleção de filmes pornográficos – que a autoridade exibirá como se fosse de relevância crucial à prova que lhe cabe buscar. A mente cozida em folhetins policiais, amiúde, segue uma nefasta lógica do tipo: gosto por pornografia = perversão = a predisposição assassina. Esse é um expediente que encanta a platéia, ávida por curiosidades e aberrações, e permite disfarçar a ausência de competência probatória do espetáculo.
Mas, é bem verdade, que um estigma não leva a outro apenas por efeito de um etiquetamento desonesto. Não, um estigma efetivamente pode levar a outro, porque quanto mais estigmas alguém carrega menos custoso lhe será assumir outros. Basta lembrar que todo estigma é uma depreciação no valor social de alguém. Assim, quanto mais estigmas esse alguém tiver menos socialmente ele valerá, tendo pouco a perder ao se dispor a assumir mais um rótulo depreciativo. Um sujeito marginalizado é mais facilmente recrutado para os modos de vida ilícitos. Depois de ter perdido o lar e a escola, é relativamente pouco custoso ao adolescente embrenhar-se no mundo das infrações, quer seja assumindo a culpa de outrem, quer seja efetivamente tomando parte na ação criminosa. A partir do momento em que desse adolescente já "não se esperava grande coisa", abriu-se o convite para que dele se esperassem as piores coisas. Cada estigma aumenta a vulnerabilidade do sujeito às demandas do mundo do crime.
A quem já está no inferno – infere a lógica popular – custa pouco dar um abraço no diabo. Se já não se tem muito a perder, pode-se, com poucos receios, arriscar perder tudo, pois, em se tratando de dignidade, o valor de cada um de seus componentes decresce à medida que decresce seu todo. É preciso ter a honra geral intacta para que se possa ser desonrado em aspectos específicos. Mesmo o Direito civil segue essa crença. Assim, tradicionalmente será maior o valor da indenização estética de um dano produzido contra um rosto intacto, bonito, sem cicatrizes, do que se o mesmo dano fosse produzido contra um rosto já marcado e deformado. A lógica da reparação civil, neste caso, é bíblica: muito será dado a quem muito já tem (ou teve). Em forma de exemplo, quem não possui os dentes incisivos não deverá sofrer tanto com a perda de um dos caninos – sofrimento considerado terrível para aquele que tem uma dentição perfeita. Para as questões de estigma, esse critério de reparação civil parece aplicável: quanto menos respeito social se possui menos custoso é perder esse resíduo de dignidade.
A sociedade cria o marginalizado de forma a deixá-lo a apenas um passo da marginalidade. É assim que o dito crime organizado – comandado por pessoas nem um pouco excluídas – pode recrutar tão facilmente pobres, negros e miseráveis para fazer a parte suja e arriscada do tráfico. Recrutam-se pessoas cuja dinâmica da sobrevivência desceu ao nível do "se for preso, azar" ou "se morrer, morreu". Pessoas que já não têm o que perder. Tire de uma pessoa uma boa parte de sua dignidade social e ela facilmente se encarregará de acabar com o resto, pois quanto mais baixa é a sua posição na sociedade, menor são suas alternativas de vida honrosa e menores são também os custos simbólicos de sua entrada no mundo do crime. Uma exclusão abre caminho para a outra e assim sucessivamente.
Embora um estigma possa facilitar a entrada em outro, isso não autoriza os acusadores públicos a fazerem uma dedução simplista de que quem já tem pouco a perder foi o responsável pelo crime de autoria incerta. Seria inverter causa e conseqüência. Ora a prostituta, por exemplo, tem pouco a perder acrescentando ao seu métier ações criminosas (como o pequeno tráfico de entorpecentes) justamente porque, mesmo antes de entrar no crime, já era tratada como se fosse criminosa. Se uma pessoa não perdesse a dignidade por ser prostituta, não lhe cairia facilmente o rótulo de criminosa diante de uma acusação mal fundamentada. É justamente porque a sociedade faz com que um estigma leve a outro que eles efetivamente seguem essa lógica. Num exemplo inverso, o médico viciado em morfina, que tendo acesso fácil à droga, e horários de plantão para disfarçar seu vício, será capaz de conservar sua dignidade de pessoa honesta e produtiva, não sofrendo os efeitos da marginalização. É viciado apenas, sendo razoável supor que repudiaria propostas criminosas – como traficar, furtar, matar – como qualquer outra pessoa. A lógica não é, portanto, a de que uma conduta ilícita leve a outra, mas a de que uma situação de marginalização seja um efetivo convite a que se abrace outra.
O que serve como explicação sociológica da entrada facilitada dos marginalizados no mundo crime, não serve como recurso simplificador dos procedimentos de investigação criminal. A conclusão de uma investigação criminal não pode se apoiar em máximas do tipo: "Dentre os acusados, é criminoso aquele que possuir o maior índice de marginalização." Assim, é um absurdo que certos delegados diante de uma morte violenta e incerta numa favela, sem saber quem é a vítima e seu autor, sem nada saber daquele crime especificamente, digam com estúpida convicção ao repórter da TV: "provável envolvimento com o tráfico de drogas", como se a morte dos que vivem em favelas não pudesse decorrer de motivos passionais, vingança pessoal, motivos fúteis, crimes patrimoniais, familiares etc. para acontecer; ali se morre apenas por ação do tráfico. A platéia social novamente gosta e o espetáculo pode ser conduzido de qualquer forma, pois quem se importa com tão desqualificado morto? Agora, diante da morte do político que ia depor num processo criminal no dia seguinte, alardeando que entregaria muitos nomes de pessoas importantes, o mesmo delegado seria pateticamente cauteloso: "Todas as hipóteses, inclusive de crime por motivações políticas, estão sendo averiguadas". É que, particularmente no Brasil, ricos podem morrer de muitas formas; pobres apenas da forma que menos trabalho der à investigação.

Só não paga quem pode
Nos desdobramentos teóricos do labelling approach, o que chamamos de imputação criminosa seria, na verdade, o resultado de duas distorções, sintetizadas sob o sugestivo nome de "processo de criminalização". Na primeira distorção, há a chamada criminalização primária, feita, sobretudo, pelo legislador penal, que consiste na eleição de condutas a serem consideradas criminosas não pelo critério do dano social que provocam, mas pela origem habitual dos que praticam tais condutas. Um exemplo paradigmático neste sentido é expresso pelo artigo 176 do Código Penal brasileiro que incrimina aquele que, dentre outras condutas, toma refeição em restaurante "sem dispor de recursos para efetuar o pagamento". Sim, você leu certo, só há crime se quem tomou a refeição no restaurante não tinha dinheiro para pagá-la, mas se ele dispunha de recursos para tal e simplesmente preferiu não efetuar o pagamento não poderá ser incriminado. O objetivo dessa lei não é, como então fica óbvio, evitar danos ao patrimônio alheio, nem convencer as pessoas a que paguem a refeição tomada, mas evitar que os mais pobres possam se "aproveitar" de sua pobreza. A jurisprudência confirma: "Para configurar-se o crime, é necessário que o agente faça a refeição sem ter dinheiro para pagá-la; se tem recursos, mas não paga, como acontece nos ‘pinduras’ estudantis, o ilícito é só civil e não penal" (TACrSP, Julgados 90/83).
Ao criar leis, portanto, há um processo de criminalização primária, resultante da intolerância legislativa com a conduta dos mais pobres. Quando falamos de criminalização primária, falamos, em síntese, de duas coisas:
a) O crime não é uma realidade natural, descoberta e declarada pelo Direito, mas uma invenção do legislador, algo é crime não necessariamente porque represente uma conduta socialmente intolerável, mas porque os legisladores desejaram que assim fosse;
b)E essa invenção segue critérios de preferência legislativa, cujos balizamentos não costumam respeitar princípios de razoabilidade ou proporcionalidade, gerando leis penais duríssimas contra as condutas dos mais pobres e rarefeitas em se tratando de crimes típicos dos estratos sociais elevados.
Na segunda distorção, chamada de criminalização secundária, entram em ação os órgãos de controle social (polícia, judiciário, imprensa etc.) que, ao investigarem prioritariamente os portadores de maior índice de marginalização, acharão – por óbvio – um maior número de condutas criminosas entre eles. Se mais vezes os pobres são tidos como suspeitos, se condições como possuir emprego e residência fixa influenciam nos rumos do processo penal, se muitos dos advogados que defendem os mais pobres chegam tarde às audiências e demonstram pouco interesse nessas causas, se não ter um modelo familiar idêntico ao das classes de onde provêm os juízes e seus auxiliares facilita, sobremaneira, o rótulo de "proveniente de família desestruturada", se ter um passado tortuoso é capaz de suprir a ausência de provas na presente acusação, então, não há outra saída: os marginalizados serão facilmente convertidos em marginais. A etiqueta penal lhes aderirá à pele, e dela jamais sairá.
Em síntese, o labelling approach atuou como um despertador inconveniente no sono do penalista dogmático, que jurava que o Direito penal nada mais fazia do que nos proteger de pessoas essencialmente más. Ao contrário, o labelling veio para mostrar que nosso tipo habitual de criminoso – pobre e encarcerado – revela muito pouco sobre a estrutura do mal em si, e muito, mas muito mesmo, sobre a ideologia desigualitária de nossa sociedade.

Bibliografia:
ANDRADE, V. R. P. (2003). Sistema penal máximo vs. Cidadania mínima. Porto Alegre: Do Advogado.
BECKER, H. (1978). Los estraños. Buenos Aires: Tiempo Contemporáneo.
BERGER, P. L. e LUCKMANN, T.(2000). A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes.
Farrington, D. (1991). Psychological contributions to the explanation of offending. Issues in Criminological and Legal Psychology. Vol. 1, n.º 17, 7-19.
GOFFMAN, E. (1988). Estigma. Rio de Janeiro: Guanabara.
LOMBROSO, C. (1969). L’uomo delinqüente. Roma, s.ed.
SELL, S. C. Comportamento social e anti-social humano. Florianópolis: Ijuris, 2006.
ZAFFARONI, E. R. & BATISTA, N. Direito penal brasileiro I. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
XIBERRAS, M. (1996). As teorias da exclusão. Lisboa: Instituto Piaget.


Meus amores...
Todas as minhas anotações das matérias estão postadas, para a semana de provas...
Espero que ajude...
Em Filosofia do Direito a prova será baseada no texto o Conceito de Direito, disponivel no Blog do prof. Mauricio, em Sociologia não tenho muita coisa anotada, acredito que quase ninguem tenha né, mas a prova será baseada na Sociologia de Max Weber, no livro do GALLIANO CAP. 2, também tem alguma coisa que dá para aproveitar, não esquecendo do pequeno lembrete de 4 laudas escritas que o professor liberou pra usar na prova... rs
Em Leitura e Produção de Texto, também pode usar 2 laudas de lembrete, mas deve ser manuscrita.
Bom, lembrando também que as minhas anotações de Economia e Teoria Constitucional não estão completas falta a matéria de uma aula em cada uma.
Beijos! =D



Terça- Feira (14-06-2011 - 21hrs) SOCIOLOGIA DO DIREITO

Quarta- Feira (15-06-2011 - 21hrs) ECONOMIA NO DIREITO

Quinta- Feira (16-06-2011 -21hrs) LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO

Sexta - Feira (17-06-2011 -19hrs) CRIMINOLOGIA

Segunda - Feira (20-06-2011- 19hrs) TEORIA CONSTITUCIONAL

Terça- Feira (21-06-2011 - 19hrs) FILOSOFIA DO DIREITO

Quarta- Feira (22-06-2011 19hrs) DIREITO CIVIL PARTE GERAL II


Tempo é questão de preferência

Escola positiva: Vai reconhecer a diferença do criminoso; Levar o pensamento da Escola Positiva a rica pode levar a riscos políticos criminais.

- DETERMINISMO: O crime já esta pré-determinada naquele cidadão.

(Uma coisa que se impõe no cidadão, não que ele queira).

- Criminoso doente: É uma pessoa anormal;

- Pena tratamento: Precisa de um tratamento para voltar ao convívio social.

- Necessário (depois disso começa a Ideologia de defesa social) defender a sociedade X o criminoso. (periculosidade).

CRIMINOLOGIA DO CONSENSO E DO CONFLITO

A sociedade como principal fator para que o crime aconteça.

- Abordagem sociológica, macrocriminologica.

Uma analise mais biológica e psicológica.

- Consenso: Funcionalista, escola de Chicago, associação diferencial, teoria da anomia e subcultutra.

(Partem do pressuposto de que uma sociedade é harmônica através do consenso).

- Conflito: Labelling Approach e Criminologia Critica.

(O conflito permite a existência da sociedade)

ESCOLA DE CHICAGO

- EUA – Universidade de Chicago

Os EUA se tornam o principal exemplo para criminologia. Década de 40, 50, 60.

- Analise da violência nas cidades, estatísticas (mapeando a criminalidade).

- Relação entre crime e vida urbana (a vida na cidade aumenta a criminalidade)

Criminal -> Estudar o lugar do crime (principal linha de pensamento)

- Áreas de Delinqüência

Falta esta parte.

“Os jovens adoram desobedecer. Só que, atualmente, não há ninguém para lhes dar ordens”.

Jean Cocteau

20-05-2011

Principio da legitimidade: Damos o direito para o estado punir (vontade de vingança). Aplicamos as teorias psicanalíticas.

TEORIAS PSICANALÍTICAS

- Teorias da culpa

- Identidade, ego e superego.

- Defesa do inconsciente (superego controla o inconsciente): Chiste (brincadeira, piada), sonho (interpretação Freud), tiques (sumarização de preocupações), sublimação (se dedica mais para uma só coisa), racionalização (tendência a dar razão a todos os nossos fatos), ato falho (dizer o que não deveria dizer para uma pessoa que não deveria ouvir).

PENA: (impulso para vingança) efeito catártico (efeito de purificação, de limpeza), racionalização (pena para prevenir novos crimes), bode expiatório (aquele que pagou por não ter reprimido os impulsos que nos reprimimos).

PRINCIPIO DA CULPABILIDADE (relacionado com subjetividade= capacidade de escolha) x SUBCULTURAS

CRIMINAIS E ASSOCIAÇÕES DIFERENCIAIS

- Cultura (tudo aquilo que é modificado pelo homem e que pode ser transmitido de geração em geração).

- Delinqüência juvenil;

- Criminoso é um imitador. A intensidade do convívio com o crime determina a escolha por ele.

TECNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO

a) Negação da responsabilidade;

b) Negação da ilicitude;

c) Negação da vitimização;

d) Condenar os que condenam;

e) Apelo a instancias superiores;

ID (eu) – a busca de suprir nossas faltas.

EGO (ele) – o que é melhor para nós.

SUPEREGO (super eu) – a consciência.

25-05-2011

Forças todos têm. O que falta a muitos é vontade.

Vitor Hugo

* Principio da culpabilidade X Sub/AD

PRINCIPIO DO BEM E DO MAL (Que a sociedade entre bem (cidadãos honestos que cumprem com as obrigações da sociedade) e mal (os que não cumprem com as obrigações exigidas pela sociedade), que é possível identificar o mal, e o mal pode ser eliminado).

Teoria estrutural funcionalista e da anomia.

- Durkheim – analogia do corpo humano (compara o funcionamento do corpo humano com a sociedade).

- O crime faz parte da estrutura social.

(Estrutural: Que esta na estrutura, no alicerce, o que dá fundamento), escola, educação, família, religião, sistema jurídico, economia fazem parte da estrutura da sociedade. Durkheim diz que o crime também faz parte da estrutura da sociedade, como um fundamento, um dos alicerces. Afirma ainda: Não há sociedade sem crime.

- O crime cumpre uma função na sociedade. O crime força uma atualização de valores, incentiva uma revisão de prioridades, de valores, esta é a função do crime na sociedade.

O crime é a antecipação da moral futura.

- O excesso em quantidade e crueldade conduz a anomia, por isso deve ser combatido. (Ate o ponto de uma freqüência racional dentro de uma sociedade o crime ainda não é considerado uma doença social, quando o crime se repete demais, com muita crueldade, ele passa a ser considerado uma patologia (doença social)). Anomia: desorganização das ordens, quando não se entende mais dentro uma sociedade qual norma aplicar, nem a quem obedecer. Sensação de que não existe norma. Regras demais sobre o mesmo assunto, desorganização de valores.

- Robert Merton

- Merton: Existe crime na sociedade, mas não são todos os cidadãos que os cometem. O crime se dá pela distancia entre objetivos culturais e meios institucionais.

Os meios corretos de atingir um objetivo tornam-no muito distante. Para chegar aos objetivos alcançados existem muitos meios, os institucionais/lícitos, e os ilícitos.

- 5 modelos de adaptação individual.

Meios Institucionais Fins

Inovação - +

Ritualismo + -/+

Conformidade + +

Evasão - -

Rebelião - -

LIVRO - AS PRISÕES DA MISÉRIA - LOIC WACQUANT

Inovador: Não aceita os meios porem quer os mesmos fins, é efêmero, passageiro, clandestino.

Ritualista: Se comporta como todos, independente dos fins que vão resultar.

Conformidade: O conformista acredita nos meios e acredita nos fins, acredita que mediante os meios institucionais ele vai alcançar seus objetivos, quer tudo o que todos querem, mas de acordo com as regras institucionais. Vantagem: Quando ele é bem sucedido, é bem sucedido de verdade.

Evasão: O evasivo é aquele que não acredita nos meios e não acredita nos fins, ele escolhe outro meios pra ele, vai se excluir da sociedade, adotam modelos alternativos. Ex. hippies, naturalistas, andarilhos.

Rebelião: Não deseja os mesmos meios, e não deseja os mesmos fins, ele quer transformar os meios e os objetivos. Não quer adotar uma vida alternativa individual, quer modificar a sociedade.

- Criminologia Radical/ Nova Criminologia.

- Anos 70, EUA, Inglaterra.

- Base do pensamento abolicionista.

- Busca a redefinição do objeto da criminologia.

- Os ingleses concluem que a solução do crime depende da eliminação da exploração econômica e opressão política de classe.

- Itália: Baratta, Bricola, Pavarini, Melossi – “Escola de Bolonha” – criminologia de tipo marxista.

- França: Michel Foucault – 1975

- Países de língua portuguesa: Boaventura de Souza Santos, Juarez Cirino dos Santos, Nilo Batista, Roberto Lyra Filho – Instituto Carioca de Criminologia.

Afirma-se que a totalidade do fenômeno criminal não é compreendida pelas demais teorias e que o delito depende do modo de produção capitalista. A lei penal e também uma estrutura que depende do sistema de produção.

Não pretendem defender a sociedade contra o crime, mas defender o homem contra o tipo de sociedade em que vivemos.

Marx via o crime como contribuição para a estabilidade política, legitimação do monopólio do Estado sobre a violência e justificativa para o controle político legal das massas.

Os atos são criminosos porque é do interesse da classe dominante. O controle da “burguesia” sobre os meios de produção lhe dá o controle do Estado e da aplicação da lei. A industrialização agrava a divisão de classes, fazendo necessária a lei penal.

Definir alguém como criminoso possibilita controlá-lo.

A solução do crime consiste na transformação revolucionária da sociedade e eliminação dos sistemas de exploração econômica e política.

Direito penal mínimo:

- os minimalistas desejam reduzir o Direito Penal, com simpatia pelos infratores.

- pensar na criminalidade que atinge os oprimidos.

- transformar a sociedade.

- contrair o sistema.

- pregam princípios como a Fragmentariedade e Subsidiariedade do Direito Penal, Princípio da Intervenção Mínimo, da Insignificância, da Adequação Social, como forma de assegurar direitos humanos fundamentais.

Abolicionismo:

- dizem que o Direito Penal apenas legitima e reproduz desigualdades e injustiças sociais. Louk Hulsman e Nils Christie.

- razões para abolir o DP:

1) Já vivemos em uma sociedade sem direito penal – cifra negra.

2) Sistema anômico.

3) Sistema seletivo e estigmatizante.

4) Sistema burocrata.

5) Falsa concepção da sociedade: não há consenso dentro dela.

6) Vê-se o homem como inimigo.

7) O sistema se opõe à estrutura geral da sociedade civil.

8) A vítima não interessa ao sistema penal.

9) O sistema é máquina que produz dor inutilmente.

10) A pena não reabilita, é ilegítima, cada novo crime demonstra isso. Não intimida. Só serve para mostrar a ação do Estado.

Conclui-se pela necessidade de investigar a estrutura econômica e social onde vive o autor do delito.

Repensar a política criminalizadora do Estado, para chegar à criminalidade econômica, abuso de poder, saúde pública, patrimônio coletivo, meio ambiente, crime organizado.

A crítica tem levado à despenalização, descriminalização, desjurisdicionalização. Juizados Especiais Criminais – Lei 9099.